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Um site dedicado à língua portuguesa, com ênfase no português falado em Cabo Verde, no propósito de defender e promover a língua portuguesa no arquipélago, levando-se em conta também o crioulo.
Lembro-me, adolescente, adorávamos ir ao "djeu" (ilhéu) e os mais velhos faziam uma grande paparoca.
Para nós, paparoca, não era qualquer comida, mas a comida feita com qualquer coisa, com o que se tinha.
Paparoca (n. f.), pois, é aquilo que representa popularmente alimentação, comida, papança: “Dias depois, a larva encontra na cola — deliciosa paparoca de sua predileção — o alimento de que necessita.” (Eduardo Frieiro, Os Livros Nossos Amigos, p. 93.).
Ref:
Ainda, na linha da "veia literária" do passado, transcrevo aqui uma outra poesia escrita em março de 98, quando ainda morava na ilha de Florianópolis/SC, mas que não deixa de demonstrar a minha ligação com Cabo Verde, com a milha ilha, com as montanhas da terra:
MONTANHA
Montanha
Serena
Tão Calma.
Esvazias meu pensamento
Na dureza da tua rocha.
Num sonho de liberdade,
Nos ecos que me respondem.
As dúvidas que me transcendem.
Sozinho
Indago:
Quem existe atrás de ti?
(março de 98)
A língua é vida e as interações são permanentes e infinitas. É certo que o crioulo cabo-verdiano tem na sua base o português, mas é tão certo também que, hoje, a própria língua nativa também influencia a língua de camões e a faz incorporar novos vocabulários.
Jongoto é a expressão do português de Cabo Verde (por influência do crioulo, é claro) que significa, pois, acocorado: sentar sobre os calcanhares; acocorar-se, ficar de cócoras.
Portanto, se como eu acredita que também falamos português, porque falamos de fato, use sem medo.
Referência:
jongotodo in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-04-16 19:13:19]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/jongotodo
Até os anos 80 ou, em muitos lugares, até mais tempo, usávamos muito a cafuca em Cabo Verde, durante a noite. Quase ninguém tinha eletricidade naquele tempo e os candeeiros eram reservados para a sala e outros cômodos/cómodos interiores. Mas na cozinha e outras dependências exteriores, usava-se comumente a cafuca (em português) ou kafuka (em língua cabo-verdiana - crioulo).
Talvez alguém que conheça a palavra em Cabo Verde e receoso de "não estar a falar português", sinta-se inseguro de usá-la. Mas não há problema:
Cafuca s. f. = palavra de origem angolana, do quicongo kafuka, a partir de (ku)kafuka, "pegar fogo", pode tranquilamente ser usado em português para designar candeeiro artesanal a petróleo com base numa garrafa (o que de fato usáva-mos em Cabo Verde).
Mas atenção, no Brasil a expressão normalmente designa algo um pouco diferente, uma cova onde se queima a lenha para carvão.
Referência:
cafuca in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-04-16 18:44:19]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/cafuca.
Dicionário Michaelis online.
Dicionário Aurélio eletrônico.
Este poema, quase em forma de soneto, foi escrita por mim, no Brasil, em 07 de abril de 1999, há dezesseis anos. Hoje, por acaso, ao pesquisar por entre antigas anotações encontrei-a e estou compartilhando com os amigos e seguidores deste blog:
POETAS MORTOS
Eu não conheço as formas
Nem sei se fazem rimas.
Os meus versos são soltos
Como sonhos libertos.
É inútil a métrica
Que mostra só a técnica
De um escritor perfeito
Vazio de sentimento.
Eu nunca fui um poeta,
Mas minha alma esquenta
Se não posso gritar
Para a raiva mostrar.
Seus poetas miseráveis,
Eu detesto vocês!
(Florianópolis/SC, 07/04/99)
Algumas (acredito que poucas, felizmente) não gostam de admitir ou que se diga que o crioulo cabo-verdiano ou língua caboverdiana (como alguns atualmente defendem) tem como base lexical a língua portuguesa. Como se isso fosse ofensivo (mas eu não entendo). Afinal, o fato da língua portuguesa, espanhola, francesa, etc., serem originárias do latim não as faz "menos línguas", como todas as outras.
Bom, depois de tanto tempo sem escrever nada, hoje, vou trazer a palavra galante para comparações entre a nossa língua portuguesa e o crioulo (também nosso), principalmente na variante de Santiago, pois não estou seguro de que a expressão é usada no Barlavento com o mesmo significado (talvez, apenas em hipótese, em S. Vicente o sentido seja mais próximo do português).
Galante (adj.), do francês galant, quer dizer em português:
1. Gracioso, gentil, donairoso, esbelto; próprio de galã
2. Distinto, elegante, polido; que mostra delicadeza ou cortesia, procurando agradar ou seduzir, afável, amável
3. que tem aspeto atraente, bonito, elegante, esbelto
No crioulo cabo-verdiano, a palavra ganhou um sentido contrário ao equivalente português:
"Um homem galante", em língua cabo-verdiana quer dizer um homem feio. Portanto, galante em Cabo Verde é:
feio, esquisito e disforme
"Môs bu é galanti"
Donde vem a expressão?
Também da língua de Camões, a última flor do Lácio.
Chiça
Lus. Pleb. [plebeísmo]
Interjeição.
1.Indica desprezo, irritação.
Substantivo feminino.
2.Droga, merda:
Que chiça é aquela?
"Chiça, não me irrites", dizemos em Cabo Verde, por exemplo.
Segundo a Infopédia, a expressão é de origem alemã: "Do alemão Scheiße, 'porcaria; merda'?"
Bandalho
[De bando1 + -alho.]
Substantivo masculino.
1.Homem esfarrapado, maltrapilho.
2.Indivíduo sem dignidade nem brio; patife.
O que em crioulo dizemos, com o mesmo significado "bandadjo" ou mesmo "bandadjado" (maltratato, sem condições, acabado)
Usamos em Cabo Verde a palavra gana, para pretender dizer vontade, ímpeto, desejo. Contudo, há por parte de alguns (dos que sempre ficam temerosos de incorrer em erro, ao “levar” para o português termos supostamente “não portugueses” - devido ao uso corriqueiro do crioulo) um certo receio de usar a mesma palavra (gana) na língua portuguesa.
Pois, gana é mesmo gana em português.
O termo origina-se do espanhol e quer significar
(Sub. Fem.)
1.Grande apetite ou desejo de algo; fome.
2.Impulso, ímpeto, capricho, veneta:
3.Má vontade contra alguém, ou desejo de prejudicá-lo, de fazer-lhe mal; raiva, ódio.
(Quer saber por si mesmo - consulte a Infopédia)
A exemplificar: "desde que passou a me maldizer, fiquei com gana de pegá-lo"; “Nho Lobo tinha uma gana imensa de comer”.
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Estados Unidos
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Bom dia!A camoca do Cabo Verde é también o "gofio"...
Como o Caboverdiano, geralmente, não usa a LP em s...