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Um site dedicado à língua portuguesa, com ênfase no português falado em Cabo Verde, no propósito de defender e promover a língua portuguesa no arquipélago, levando-se em conta também o crioulo.
A língua é vida e as interações são permanentes e infinitas. É certo que o crioulo cabo-verdiano tem na sua base o português, mas é tão certo também que, hoje, a própria língua nativa também influencia a língua de camões e a faz incorporar novos vocabulários.
Jongoto é a expressão do português de Cabo Verde (por influência do crioulo, é claro) que significa, pois, acocorado: sentar sobre os calcanhares; acocorar-se, ficar de cócoras.
Portanto, se como eu acredita que também falamos português, porque falamos de fato, use sem medo.
Referência:
jongotodo in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-04-16 19:13:19]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/jongotodo
Até os anos 80 ou, em muitos lugares, até mais tempo, usávamos muito a cafuca em Cabo Verde, durante a noite. Quase ninguém tinha eletricidade naquele tempo e os candeeiros eram reservados para a sala e outros cômodos/cómodos interiores. Mas na cozinha e outras dependências exteriores, usava-se comumente a cafuca (em português) ou kafuka (em língua cabo-verdiana - crioulo).
Talvez alguém que conheça a palavra em Cabo Verde e receoso de "não estar a falar português", sinta-se inseguro de usá-la. Mas não há problema:
Cafuca s. f. = palavra de origem angolana, do quicongo kafuka, a partir de (ku)kafuka, "pegar fogo", pode tranquilamente ser usado em português para designar candeeiro artesanal a petróleo com base numa garrafa (o que de fato usáva-mos em Cabo Verde).
Mas atenção, no Brasil a expressão normalmente designa algo um pouco diferente, uma cova onde se queima a lenha para carvão.
Referência:
cafuca in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-04-16 18:44:19]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/cafuca.
Dicionário Michaelis online.
Dicionário Aurélio eletrônico.
Algumas (acredito que poucas, felizmente) não gostam de admitir ou que se diga que o crioulo cabo-verdiano ou língua caboverdiana (como alguns atualmente defendem) tem como base lexical a língua portuguesa. Como se isso fosse ofensivo (mas eu não entendo). Afinal, o fato da língua portuguesa, espanhola, francesa, etc., serem originárias do latim não as faz "menos línguas", como todas as outras.
Bom, depois de tanto tempo sem escrever nada, hoje, vou trazer a palavra galante para comparações entre a nossa língua portuguesa e o crioulo (também nosso), principalmente na variante de Santiago, pois não estou seguro de que a expressão é usada no Barlavento com o mesmo significado (talvez, apenas em hipótese, em S. Vicente o sentido seja mais próximo do português).
Galante (adj.), do francês galant, quer dizer em português:
1. Gracioso, gentil, donairoso, esbelto; próprio de galã
2. Distinto, elegante, polido; que mostra delicadeza ou cortesia, procurando agradar ou seduzir, afável, amável
3. que tem aspeto atraente, bonito, elegante, esbelto
No crioulo cabo-verdiano, a palavra ganhou um sentido contrário ao equivalente português:
"Um homem galante", em língua cabo-verdiana quer dizer um homem feio. Portanto, galante em Cabo Verde é:
feio, esquisito e disforme
"Môs bu é galanti"
O primeiro-ministro de Cabo Verde discursou em crioulo na 66ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Bem, foi histórico por ter sido a primeira vez, mas os resultados serão positivos ou negativos para o futuro da língua portuguesa em Cabo Verde? Não sei, só o tempo dirá. Eu só espero que a ânsia dos "vanguardistas", o intento de se forçar "fazer parte" da história cabo-verdiana, não se transforme em populismo, na pura tentativa de galgar a simpatia do povo.
O futuro de Cabo Verde depende de reflexões profundas e de ações pensadas e repensadas para que, em nome do triunfo próprio, não se condene estas ilhas ao ostracismo perpétuo.
Em tempo das águas, tomara que a esperança perene que renasce a cada ano, não faça da esperança o desespero futuro.
E para não perder o mote.
Águas - substantivo feminino plural - o termo pode representar as chuvas e, no português da nossa terra (Cabo Verde), quer significar a época das chuvas, que vai em regra de julho a outubro (embora atualmente tudo esteja tão imprevisível)
Germano Almeida - Ponto & Vírgula (n.2, p. 19):
“...quando as águas eram boas, casavam-se” (Germano Almeida, em ).
Populismo - da acepção brasileira - a política fundada no aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo, na tentativa (muitas vezes profíqua) de conseguir a simpatia do povo.
Ostracismo (Grego: ostrakismós): exclusão, proscrição, banimento; exílio.
Faço votos que o português permaneça não apenas como legado, mas língua viva em Cabo Verde (ando entretanto um pouco temeroso)
Artigo 9º da Constituição da República de Cabo Verde:
1. É língua oficial o Português.
2. O Estado promove as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa.
3. Todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las.
Faço acrescer relevante e inteligente comentário de Pedro Cruz (27 set. 2011), cuja relevância motivou-me a integrá-lo ao post:
Acresce uma questão, política, da maior importância: Portugal e o Brasil, pelo menos, estão empenhados em consagrar o Português como língua oficial da O.N.U. A opção, política, de J.M.N. foi contrária a esse empenho, de cujos resultados C.V. também beneficiaria. Por outro lado, uma das grandes vocações dos Cabo-verdianos é o seu universalismo. O Crioulo, nas suas variantes, é a matriz cultural de cada Cabo-verdiano, mas prende-o à sua ilha e à sua comunidade. Nesse sentido «corta-lhe as asas» e fecha-o sobre si próprio. Limita-o. Com o Português, partilhado por milhões de pessoas em todo o mundo, Cabo Verde abre-se a ele e afirma o seu cosmopolitismo. Glosando Natália Correia e Fernando Pessoa, poderíamos afirmar, em tom pseudo-psicanalítico, que o(s) Crioulo(s) são a «Mátria» do Cabo-verdiano e o Português a sua «Pátria». Em suma, políticas que tendam a fechar os Cabo-verdianos nas suas variantes do Crioulo são, afinal, lesivas de uma parte importante da respectiva identidade e até comprometedoras do papel importante que os Cabo-verdianos podem e devem desenvolver internacionalmente. Cumprimentos e parabéns pelo seu excelente e útil blogue. Recomendá-lo-ei.
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